POSFÁCIO: O Eco das Vozes: entre a memória e o porvir

POSFÁCIO: O Eco das Vozes: entre a memória e o porvir Mais do que um livro, esta antologia, construída à sombra de cinco décadas das Independências, é mais do que uma comemoração: é um gesto de escuta e de reinscrição. Entre as narrativas aqui reunidas, ecoa não apenas a memória das lutas e dos processos de libertação dos Cinco países africanos em pauta, mas sobretudo a densidade humana das suas heranças, contradições e promessas por cumprir: estas narrativas não narram apenas o que aconteceu, mas o que restou, o que persiste e o que se deseja. Assim, a literatura funciona, aqui pelo menos, como escuta do que falta. Porque estas são vozes que cancelam o silêncio histórico, que revisitam o trauma colonial e a utopia da libertação com a linguagem sensível da poiesis – trazendo algo do não-ser ao ser, dando origem a algo que antes não existia, presentificando ausências e desvelando invisibilidades.

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19.08.2025 | por Inocência Mata

PARECER do grupo de trabalho da Comissão Científica da Delegação da ALMA-CV em Portugal

PARECER do grupo de trabalho da Comissão Científica da Delegação da ALMA-CV em Portugal Com a introdução, no Manual, mesmo que a título experimental, de uma ‘norma’ de escrita nova, não se tem em conta todo o trabalho anteriormente desenvolvido na produção de normas ortográficas para a LCV, quer a nível científico, quer a nível oficial. Não sendo consensual, nem previamente testada noutros contextos, essa ‘norma’ tende a gerar resistência na comunidade linguística e na comunidade educativa, podendo assim pôr em causa o sucesso do ensino formal em língua materna.

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18.08.2025 | por vários

Ortografia do caboverdiano: ciência, identidade, e respeito pela diversidade

Ortografia do caboverdiano: ciência, identidade, e respeito pela diversidade A ciência linguística, em múltiplas vertentes – pela análise exaustiva de dados empíricos quanto às suas propriedades fonológicas e morfossintáticas, em articulação com a sociolinguística e a linguística histórica – conhece numerosos casos bem documentados de outros contextos que sistematicamente demonstram isto: nenhum sistema ortográfico é neutro. A escrita das línguas vem sempre associada a ideologias e disputas, refletindo relações de poder e visões muito distintas sobre o sentido coletivo. Ou seja, esta não é uma realidade exclusiva de Cabo Verde, é algo que acontece em processos semelhantes por todo o mundo.

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17.08.2025 | por Fernanda Pratas

A anexação do Grão-Pará como colônia do Brasil

A anexação do Grão-Pará como colônia do Brasil A adesão à Independência, longe de significar a emancipação dos povos amazônidas, consolidou a subordinação da região ao centro-sul do Império. O Pará, antes colônia de Portugal, passou a ocupar uma posição periférica dentro do novo Brasil. As estruturas de dominação e exclusão social permaneceram. O poder continua, até hoje, concentrado nas mãos de uma elite política e econômica associada aos interesses do sudeste e das potências estrangeiras e o povo amazônida ainda é marginalizado nos processos decisórios do país.

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17.08.2025 | por Gabriella Florenzano

MDOC - O lugar de Melgaço no mundo

MDOC - O lugar de Melgaço no mundo Há, no entanto, um denominador comum: a necessidade de partir. Trata-se de uma região que viveu longos períodos de miséria, em que a vida era demasiado dura para ser sustentada, levando muitos a emigrar, sobretudo para França, de onde regressaram com condições melhores. Como se percebe nos testemunhos, a emigração não era uma simples aventura, mas uma inevitabilidade.

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14.08.2025 | por Manuel Halpern

Shakespeare é pop, entrevista a Marco Mendonça, a propósito de Reparations Baby

Shakespeare é pop, entrevista a Marco Mendonça, a propósito de Reparations Baby Sendo um game show, pareceu-me importante ter esse lado da cultura pop, porque estes programas, para além de serem uma coisa muito ligada à cultura geral, também estão ligados ao mundo pop, a nomes ou a conceitos comuns para o público generalista. Mas interessava-me igualmente explorar um lado mais intelectual, neste caso de uma das concorrentes, a Rosa, interpretada pela Vera Cruz, em que pudesse existir uma pequena provocação sobre a discussão dos clássicos entre as concorrentes, que são as três pessoas negras.

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13.08.2025 | por Sara Goulart Medeiros

País de porteiros

País de porteiros Não é nevoeiro, é o controlo doméstico de ver quem entra e quem sai, com quem anda e como está vestido, a que horas e com quem estava. Esse ressentimento, típico de quem está só a ver, cai, com a nortada, como uma névoa oleosa e entranha-se na estrutura cultural portuguesa. O funcionamento institucional português rege-se por leis de portaria: desde as instituições mais modernas, ao estilo de porteiro de bar ou discoteca, às mais tradicionais.

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04.08.2025 | por Joana Lamas

Na vertente sul do desejo

Na vertente sul do desejo O desejo é o que nos leva a produzir novas formas, a construir um mundo, a organizarmo-nos de maneiras singulares e inovadoras. Entre o que se espelha e o que se oculta, é a hipótese que sobra de nos libertarmos do pântano jurídico onde nos afogamos. Quando o outro aparece, surge sempre como alguém a ser lido, a descobrir, a tatear, como a figuração do desconhecido sobre a qual projecto as minhas fantasias. O desejo que deflagra num movimento inesperado, numa desigualdade oscilante, numa ondulação caprichosa, nunca será uma uniformização homogénea e igualitária. A igualdade confunde-se com impunidade na sociedade neoliberal, a impunidade é hierárquica. Na perversão capitalista, igualdade significa apenas privilégio.

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04.08.2025 | por Ricardo Norte

Ação "Salazar Caiu"

Ação "Salazar Caiu" É evidente que os regimes totalitários se baseiam na censura, estetizam os heróis e as narrativas metafísicas. O «Partido dos Mortos» realizou performances no forte de Santo António da Barra e na rua que ainda hoje se chama Doutor Oliveira Salazar. Curiosamente, 51 anos após a Revolução das Cravos, em Portugal, mais de 17 topónimos têm o nome de Salazar e mais de 700 têm nomes de figuras do regime do Estado Novo. O que fazer com essa memória política? É necessário demolir monumentos e renomear nomes geográficos? A questão é complexa, mas a situação atual exige claramente reflexão e comentários.

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04.08.2025 | por Partido dos Mortos

Os Soulèvements de la terre e o livro "Premières secousses"

Os Soulèvements de la terre e o livro "Premières secousses" Se o surgimento do movimento dos Soulèvements de la terre foi a melhor notícia dos últimos anos no que diz respeito às lutas ecológicas e ambientais, a publicação do livro que aqui abordamos parece-nos um contributo essencial, com os recursos teóricos, táticos e estratégicos que nos apresenta, para as lutas ecológicas, agrícolas e sociais, transmitindo o gosto e a necessidade absoluta da ação direta coletiva.

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02.08.2025 | por várias

Tributo aos Ancestrais em Lagos

Tributo aos Ancestrais em Lagos Mais de cem pessoas reuniram-se em Lagos no dia 26 de julho, para recordar e homenagear os antepassados encontrados em Lagos, num programa que incluiu uma cerimónia de atribuição de nomes, uma procissão musical e uma homenagem aos antepassados. Com a Sociedade de Arqueólogos Africanistas, Tributo aos Ancestrais, Vicky Olze, Anson Street African Burial Ground, Grupo Firmeza Batucadeiras de Almancil e a National Geographic. A Câmara Municipal de Lagos, apesar de ter sido convidada, esteve ausente neste dia histórico.

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01.08.2025 | por vários

“Raparigas nos lares de famílias civilizadas”: trabalho doméstico e políticas da diferença na Guiné Portuguesa (anos 1950)

“Raparigas nos lares de famílias civilizadas”: trabalho doméstico e políticas da diferença na Guiné Portuguesa (anos 1950) O trabalho doméstico na Guiné colonial faz parte de processos mais vastos das políticas da diferença. Por um lado, afigura-se um instrumento por excelência de diferenciação social e exploração laboral, ao ser um trabalho sistematicamente feito por “indígenas” – africanos excluídos da cidadania portuguesa – que estavam entre os trabalhadores mais mal pagos. Por outro lado, era visto como uma forma de "civilização" e integração das populações colonizadas na sociedade colonial. No entanto, os baixíssimos níveis de aquisição da cidadania revelam como a retórica "civilizadora" não tinha uma tradução prática, mantendo as populações africanas arredadas de uma real integração legal.

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31.07.2025 | por Pedro Cerdeira

Terras de árvores de nome cantado

Terras de árvores de nome cantado A permanência de Leite Nunes em Tempué resultou no nascimento de Maria Eugénia Leite Nunes. O nome da mãe da menina? Ana Kaimba. Idade? Não sabemos. A sua ocupação era “doméstica”, como indica Maria Eugénia numa entrevista (Cruz, 2010). Não sabemos igualmente, por enquanto, a sua comunidade de pertença. Os povos predominantes da região eram os Quiocos e os Ganguelas. Assente está que o nascimento da menina foi antecedido pelo primordial dos atos, o ato carnal entre um homem e uma mulher. Ele, chefe de posto e ela, uma mulher local. O futuro da menina, filha de pai português branco e de mãe angolana negra, por mais privilegiadas que fossem as circunstâncias do seu nascimento, a sua vida até à independência de Angola estaria sujeita à «condição colonial».

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27.07.2025 | por Aida Gomes

O Festival de Músicas do Mundo de Sines em dez momentos

O Festival de Músicas do Mundo de Sines em dez momentos Tendo a Palestina como denominador comum de quase todos os concertos, Sines celebrou, mais uma vez, a diversidade musical com um programa de luxo, curado por Carlos Seixas, que assinala uma vigorante 25.ª edição. Destacam-se dez grandes momentos de um festival que nos ensina a ver e a ouvir o mundo.

Palcos

27.07.2025 | por Manuel Halpern

Bonga “Prefiro cantar dizendo as coisas, do que fingir que está tudo bem”

Bonga “Prefiro cantar dizendo as coisas, do que fingir que está tudo bem” Há quem queira tapar o sol com a peneira, mas foi o que aconteceu com a escravatura, com o colonialismo. Agora continuamos carentes de paz, harmonia, democracia, liberdade. Isso é visível. O angolano tem diamantes, petróleo, urânio... e mesmo assim foge da sua terra. Essas riquezas deviam pagar a nossa existência confortável. Mas pagam a vida de outros. Eu gostaria que fôssemos realmente independentes, livres, emancipados.. Nós éramos tão fraternos uns com os outros.

Cara a cara

27.07.2025 | por Manuel Halpern

Escritas Afrodescendentes, entrevista a Marta Lança 13.07.23

Escritas Afrodescendentes, entrevista a Marta Lança 13.07.23 Longa conversa com Ana Paula Tavares, Arimilde Soares e Sofia Afonso Lopes que, com Noemi Alfieri e Rosa Maria Fina, organizaram o livro "Escritas Afrodescendentes: Estudos, entrevistas e testemunhos".

Cara a cara

26.07.2025 | por Ana Paula Tavares

“Quando a situação aperta, só há espaço para luta”, entrevista a Galo de Luta e Priscila Kashimira

“Quando a situação aperta, só há espaço para luta”, entrevista a Galo de Luta e Priscila Kashimira Dizem que os trabalhadores não participam das reuniões e dos movimentos. Mas eles estão trabalhando 12, 13, 14, 15, 16 horas por dia. Qual o horário que eles têm para participar de uma reunião? Para ler um manifesto, uma ata, desenvolver consciência política? A materialidade não permite. Então, propor reuniões não é a solução. O que tem que se propor é luta. Quando a situação aperta, só há espaço para luta. O problema é que a esquerda teme que essa luta aconteça longe do seu pensamento. E quer primeiro impor a sua visão e só depois fazer a luta. Mas assim não funciona.

Cara a cara

22.07.2025 | por Manuel Halpern

Bairro di Talude

Bairro di Talude Si casa. Oh! Si casa! Lágrimas di kenha ta perdi tudo vidas ki fazi ku próprio món. Undi ki n ba durmi hoji? Pessoas ta fla i ês konchi 3 palavra só: imigração ku ilegal ku subsídio. Nha fidju teni carro pa lebanu fazi compra na Pingo Doce, fla Dona Maria um bez. Kel bedja di casas baxo bairro, ku pedra, ê fla, têm grandes carros e depois dizem que vivem mal. Si fidjus ka teni carro? Ês ka fazi kompra? Minino ki bai pa djuda na bairro perguntal, Undi nhoz durmi, goci? Senhora ta respondi propi, Nu ta dormi li, cama improvizadu.

Cidade

21.07.2025 | por Fábio Moniz

E nasce-me um monólogo na moto

E nasce-me um monólogo na moto negócio é simples, venda de sapatos pelas ruas. Ele não se habitua àquilo, ao acto de ser patrão. Não descansa, forma par com um ou com outro. Conta hoje com cinco funcionários. Quando saem para trabalhar, formam três grupos que vão mudando todos os dias, assim como se alteram as rotas. Têm um mapa desenhado ao longo do tempo, uma obra de cartografia para amadores, com nomes criados para ruas e avenidas ou formas nos nossos bairros.

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19.07.2025 | por Zezé Nguellekka

O cansaço das peças

O cansaço das peças Voltamos a ser encarados como nos primórdios, como nos forçaram a pretender ser E vem o peso do cansaço, e vem a força do tempo relembrar que lá foram nos buscar para agora nos quererem expulsar. Exaustos sim, cansados sim e resistimos. Voltamos a ser peças que em nosso nome. que em nome dos idos, se elevam resilientes

Mukanda

19.07.2025 | por Telma Tvon